Aqui, não: Apple ficou "furiosa" depois de Estocolmo rejeitar uma loja no parque mais amado da cidade

Que cidade no mundo diria não à gigante de tecnologia? Pois a capital sueca mostrou que há coisas das quais não vale a pena abrir mão por dinheiro algum

18 de fevereiro de 2019 3 minutos
Europeanway

Que cidade no mundo rejeitaria o prestígio de ter uma loja de primeira linha da Apple, com projeto assinado pelo Foster + Partners, de Londres, um dos mais renomados escritórios de arquitetura do planeta? Em outubro do ano passado, Estocolmo mostrou que para tudo há limite, especialmente quando a iniciativa nubla a separação entre espaço público e operação privada: a cidade rejeitou o plano da Apple de criar uma loja da marca em pleno Kungsträdgården ("Jardim do Rei"), o mais amado parque da capital sueca.

Agora, passados alguns meses, a revista sueca Fastighetsvärlden revelou qual foi a reação da Apple à negativa: a empresa ficou "furiosa". "Definitivamente, não foram palavras gentis", disse à revista Björn Ljung, vereador e membro do Comitê de Planejamento Urbano da Câmara Municipal de Estocolmo. "Foram palavras desagradáveis, que eu não quero repetir."

A empresa havia comprado o imóvel em 2016 com planos de criar ali uma "loja-conceito", que, segundo ela argumentou, estaria aberta à livre circulação do público e receberia eventos e exposições. No entanto, críticos do plano disseram que a loja não só bloquearia a entrada do parque como transformaria em área privada, para fins comerciais, um espaço até então livre, para uso público.

Os vereadores decidiram recusar o plano e se ofereceram para ajudar a Apple a encontrar um novo endereço para seu projeto. Talvez desacostumada a ouvir um não como resposta, a empresa disse que, agora, não quer mais saber de Estocolmo e não fará mais nada na cidade. A revista Fastighetsvärlden revelou ainda que, para se desfazer do imóvel, a Apple quer 50 milhões de coroas (o equivalente a R$ 20 milhões) a mais do que os 129 milhões de coroas (R$ 51,5 milhões, em valores atuais) que ela desembolsou pelo imóvel há apenas dois anos.

“Kungsträdgården é o parque mais importante da Suécia”, disse ao jornal britânico The Guardian Johanna Jarméus, do Nyréns Arkitektkontor, um importante escritório de arquitetura sueco. “Esse parque é elo entre o poder histórico da monarquia e os prédios comerciais da Hamngatan [uma das principais ruas da área central da cidade] e os distritos operários de Södermalm. Ele é muito importante para a democracia porque tem a ver com poder, de maneira simbólica e também pelo espaço que ocupa."

Os vereadores querem que o espaço continue a abrigar um restaurante (hoje, uma unidade da rede TGI Friday's ocupa o local, pagando aluguel à Apple) ou um café, operações mais afeitas à ideia de serviço público, segundo seus argumentos. Estocolmo perdeu uma loja que quase todas as outras cidades do mundo dariam tudo para ter, mas o parque seguirá sem "dono".

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